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Estudantes e formadores falam das experiências e aprendizados do intercâmbio em Jena, na Alemanha

Durante dez dias em outubro, dez estudantes dos cursos técnicos da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco viveram uma grande aventura: um intercâmbio totalmente gratuito em Jena, na Alemanha, com intensas trocas artísticas, pedagógicas e humanas.

Foram para Jena após serem selecionados pelo edital os estudantes Ana Carolina Pfeffer (Sonoplastia), Débora F. S. de Campos (Cenografia e Figurino), Flora de Souza Furlan (Iluminação), Júlia Brito Ferreira (Atuação), Larissa S. Nicácio Silva (Dramaturgia), Nataly T.N. de Freitas (Humor), Nayara Alves Oliveira (Cenografia e Figurino), Paola Izabel da Luz (Atuação), Rubens Reis (Técnicas de Palco) e Victor Moretti A. Gregório (Direção).

Junto dos estudantes, foram o formador do curso de Iluminação Francisco Turbiani e o artista docente convidado do curso de Direção Fabiano Lodi. As atividades foram feitas em parceria com a Freie Bühne Jena e.V. e a instituição Brot für die Welt.

O intercâmbio foi articulado por Marcio Aquiles, assessor de relações internacionais da SP Escola de Teatro, e contou com financiamento da Freie Bühne, que viabilizou o intercâmbio artístico-pedagógico.

O projeto “Stay or Leave? Mobility between Freedom and Security” contou com concepção inicial do educador e artista teatral Maik Pevestorff.

Durante o intercâmbio, os dez estudantes da Escola conviveram com estudantes de outros países e participaram de quatro workshops de teatro e dança, conduzido por Maik (Alemanha), Turbiani e Lodi (Brasil), Arzu Karaman (Turquia) e Hamze Abdel Sater e Farah Wardini (Líbano).

Conta Francisco Turbiani: “A experiência foi muito rica e muito positiva. Essa troca internacional é fundamental e muito enriquecedora para a formação dos estudantes. Eu particularmente fiquei muito feliz que pudemos viajar com um grupo de estudantes de todas as linhas de estudo da Escola, podendo assim representar nosso pensamento pedagógico de forma integral, pensando o teatro no encontro e união de todas suas linguagens e de todos seus participantes. A experiencia foi fantástica, e a troca com todos os artistas dos outros países foi muito importante para mim pessoalmente. Foi muito bacana poder trocar um pouco do pensamento teatral da nossa escola com pessoas de contextos culturais tão diferentes e perceber como isso reverberou de forma positiva.”

+ Leia “Sobre as formas artísticas da vida ou de quando nos lembramos do porquê fazemos teatro”, ensaio de Francisco Turbiani sobre a experiência em Jena

Fabiano Lodi também dá seu depoimento sobre a experiência em Jena: “Não há como não destacar o impacto nas vidas e nas carreiras artísticas dos dez estudantes participantes. O grupo desenvolveu com excelência as propostas artísticas e culturais, representando lindamente aspectos valorosos da cultura brasileira. Ficou evidente que a formação que os estudantes receberam nos cursos oferecidos pela SP Escola de Teatro os preparou para os desafios da criação contemporânea internacional, fazendo com que o Brasil fosse reconhecido pela sua excelência nos processos de colaboração artística e sensibilidade cultural para debater em cena os temas desafiadores propostos pelo projeto, como migração e deslocamentos territoriais. Os estudantes se destacaram nos workshops e, especialmente, nas apresentações que foram realizadas em espaços públicos de Jena no dia 10 de outubro, reunindo um expressivo quantitativo de público. Certamente, este projeto proporcionou uma forte conexão com os participantes dos outros três países envolvidos – Turquia, Líbano e Alemanha. Além disso, a oportunidade deste intercâmbio viabilizou tanto a primeira viagem de avião como a primeira experiência internacional para alguns de nossos participantes brasileiros, e isso é muito especial! A proposta em Jena envolveu uma forte imersão em diversos aspectos artísticos e culturais. Foram dez dias de trabalho intenso, começando às oito da manhã e terminando mais de dez horas da noite, envolvendo workshops de teatro e dança, criações cênicas e gestão coletiva dos espaços de trabalho e de convívio. Um total de 55 pessoas participaram das atividades, com equipes organizadas em grupos de participantes, nos quais os estudantes da SP Escola de Teatro estavam envolvidos e coordenação, do qual eu o Chico Turbiani éramos integrantes. Nós oferecemos um workshop sobre criação colaborativa, inspirada pela metodologia da SP Escola de Teatro e de muitos grupo de teatro da cidade de São Paulo, e o resultado desta experiência foi fantástico. Percebemos a forte adesão que os nossos 13 participantes tiveram com as propostas que compartilhamos, ao mesmo tempo em que notamos quão aprimoradas e inspiradoras são nossas metodologias de criação e ensino de teatro desenvolvidas no Brasil. Ficamos muito orgulhosos por todo o conjunto de atividades que desenvolvemos, com alto nível de qualidade em pouco tempo de trabalho. Para mim, pessoalmente, uma experiência marcante pelos diversos desafios nela envolvidos, passando pela responsabilidade de coordenar uma equipe de estudantes brasileiros e representar a SP Escola de Teatro. Fiquei bastante impactado com as práticas culturais e processos artísticos desenvolvidos no Líbano e na Turquia, por serem países que enfrentam desafios políticos, sociais e econômicos muito semelhantes ao Brasil. E pude interagir mais profundamente com a capacidade de realização, gestão artística e cultural da Alemanha, ao reunir todas essas diferenças, executar com exímia excelência todas as etapas do projeto e também se inserir neste contexto tão diverso e contagiante.”

Confira os depoimentos de alguns dos estudantes

Nayara Alves Oliveira, estudante de Cenografia e Figurino:

Foram dez dias intensos que mudaram completamente a minha forma de ver o mundo e a arte. O primeiro deles foi praticamente de viagem, decolamos à noite do Brasil e chegamos à noite na Alemanha no dia seguinte, prontos para viver algo que eu sempre sonhei, mas que até então parecia tão distante.

O projeto reuniu participantes de quatro países (Brasil, Líbano, Alemanha e Turquia) e logo nos primeiros dias formamos o que chamamos de “famílias do intercâmbio”, grupos com pelo menos um integrante de cada nacionalidade. A minha família se tornou um laço essencial para mim: criamos nosso próprio grupo de WhatsApp depois da viajem e seguimos conversando todos os dias.

Essa experiência significou muito mais do que apenas uma viagem. Foi a realização de um sonho que estava engavetado, a quebra de ciclos na minha família.

Ser a primeira a sair do País, a fazer um intercâmbio, e tudo isso em nome da arte, do teatro. Ser escolhida por isso foi de uma importância enorme pra mim. Todos os dias lá foram de muita emoção, porque sabíamos o quanto essa oportunidade é rara para artistas brasileiros. Queríamos mostrar que merecíamos estar ali, abrindo caminho para que outros também possam viver algo assim.

Durante as atividades, o convívio intenso fazia a gente se sentir quase num “Big Brother” artístico. Em poucos dias, criei amizades profundas, como com uma colega da Turquia, que espero rever um dia.

Uma das experiências mais marcantes foi a visita ao teatro da cidade de Jena. Fui sorteada no meu grupo para essa atividade, e foi simplesmente fascinante. Eles consideram o espaço um teatro pequeno, mas para mim era gigantesco, com palco giratório, salas de costura e criação de figurinos equipadas, diretores de arte “fixos”, e até os atores contratados em regime tipo CLT. Uma estrutura de outro mundo, muito diferente da nossa realidade. Saí de lá sonhando em um dia participar algo que me leve a trabalhar em um teatro assim.

Também tive a sorte de assistir a uma peça no Teatro de Weimar, um espaço histórico e enorme, mas onde vimos uma montagem em uma sala menor. A forma como eles trabalham a cena é completamente diferente, muito mais focada na palavra, menos no corpo e isso me fez refletir sobre o quanto o teatro pode ser múltiplo e diverso. Em tão pouco tempo, vivi intensamente. Visitei o Museu da Bauhaus, troquei experiências com artistas de diferentes culturas, e voltei com o coração cheio.

Volto dessa viagem me sentindo profundamente grata. Essa vivência me fez valorizar ainda mais o Brasil, nossa cultura, nossa criatividade e a força do nosso povo. E reforçou também os laços com os colegas brasileiros que viveram tudo isso comigo! Um grupo que segue unido e cheio de planos.

E no meio de tantas trocas, descobrimos que algumas palavras mudam de sentido quando atravessam fronteiras. Na nossa noite cultural, apresentamos a palavra saudade e explicamos que ela carrega um sentimento que só quem é brasileiro entende por completo. Hoje, quando os nossos amigos do Líbano, da Alemanha e da Turquia escrevem pra gente nas redes, sempre mandam um “saudade”. Essa palavra ficou marcada no nosso coração. Porque, no fim das contas, é exatamente isso que ficou de tudo: uma saudade imensa de um tempo que foi curto, mas transformador.

Ana Carolina Pfeffer, estudante de Sonoplastia:

Essa foi minha primeira viagem internacional e uma das experiências mais especiais da minha vida.

Lá em Jena, nós do grupo do Brasil, junto com os grupos da Alemanha, Líbano e Turquia, passamos dez dias vivendo em comunidade de forma muito intensa, pois a cultura de cada país é completamente diferente uma da outra. E foi muito interessante e bonito a maneira que se deu esse encontro e como construímos nossa relação, compartilhamos experiências sobre o nosso território, trocamos afetos e, mais do que tudo, fizemos muita arte juntos.

Durante a viagem, como pesquisa, aproveitei para conhecer um pouco sobre a sonoridade de cada país, entender o que eles consideram como música popular/tradicional e de que forma eles praticam a escuta e a produção dos sons. Foi maravilhoso poder sentir tantos ritmos, timbres, melodias e harmonias geograficamente tão diferentes, mas que se comunicam tão bem entre si.

Jamais pensei que fosse estabelecer um vínculo tão forte com cinquenta pessoas de quatro países diferentes em tão pouco tempo. Mas sinto que agora tenho uma nova família espalhada pelo mundo, e uma coisa é certa, não existe fronteira para a saudade.

Voltei para o Brasil com novas impressões sobre o mundo e com a certeza de que a arte é o maior canal de comunicação.

Agradeço à SP Escola de Teatro e ao projeto “Stay or Leave” por me proporcionar uma experiência tão incrível e importante para minha formação pessoal.

Flora de Souza Furlan, estudante de Iluminação:

Uma das experiencias mais especiais que pude viver esse ano foi o projeto “Stay or Leave” na Alemanha. Foram dez dias de muitos aprendizados, trocas, alegrias, desafios e encontros dos quais sou muito grata de ter vivido.

Poderia passar horas falando sobre cada dia, cada workshop, cada celebração, mas gostaria de enaltecer especialmente uma das atividades propostas que foram as noites culturais. Cada país foi convidado a organizar uma noite para apresentar e compartilhar um pouco da sua cultura e do seu país com todos nós, e para mim essas foram as noites mais especiais.

Experimentar comidas e bebidas tradicionais, aprender danças, conhecer um pouco da cultura de cada lugar através dos olhos e vivências de pessoas que são de lá. Descobrir as dores e alegrias de ser libanês, turco, alemão e redescobrir o que é ser brasileira.

As noites culturais foram um convite para conhecer as nossas diferenças mas também para descobrir a humanidade que compartilhamos, como apesar de vivermos em lugares tão distintos compartilhamos sentimentos comuns, que todos nós celebramos, dançamos, sofremos, e existimos em comunidade. Num mundo tão violento e conflituoso, há sim também muito amor, empatia, conexão e troca.

Tenho muito a agradecer a cada um que participou desse programa, e se colocou aberto a mostrar a si mesmo e sua cultura, pois o encontro e o coletivo é o que nos torna humanos.

Victor Moretti A. Gregório, estudante de Direção:

Foi uma experiência maravilhosa, uma das coisas mais incríveis que já vivi, ter a possibilidade de viver tão intensamente com pessoas tão plurais, de culturas tão plurais, poder entender as particularidades de cada lugar, desde os aspectos geopolíticos e sociais até as pequenas trocas do cotidiano, as ações e reações do dia a dia.

Entendi muitas coisas desses lugares e também entendi muito do Brasil, de como é ser brasileiro. A gente toma algumas coisas como normais, mas não, são nossas, do brasileiro. A gente tem uma afetividade que é muito única, a gente tem um cuidado com o outro, uma cultura de acolher, de querer que o outro se sinta confortável, que o outro participe. Essa afetividade do brasileiro costuma até ser um pouco estereotipada, mas na verdade é algo muito genuíno e muito bonito nosso.

Para além disso, as experiências dos workshops foram incríveis. A gente se apresentou nas ruas de Jena e teve um público enorme. Foi um cortejo musical, eu estava tocando violão, e a gente passava pelas ruas e as pessoas da cidade iam se unindo a nós. Fomos chamando essas pessoas com a música conforme íamos para os quatro workshops do programa, que aconteciam em quatro espaços distintos da cidade.

Participei de um workshop muito interessante, oferecido pelo grupo do Líbano, uma linguagem chamada playback theater, e foi muito interessante. Criamos imagens e esculturas vivas a partir dos relatos das pessoas da plateia, sempre no tema da mobilidade. Elas estavam ali na plateia e se sentiam representadas pelas histórias que contávamos no palco. As performances dos quatro workshops foram de alto nível, todos eram muito bem preparados.

Por fim, destaco que a experiência foi linda. Cresci muito como ser humano, como artista, conheci pessoas incríveis e ganhei uma nova dimensão do mundo e do momento em que vivemos, com guerra, genocídio, ódio e violência. Saio com um senso de urgência muito grande e com uma sensação de que não estamos sozinhos. Espalhadas pelo mundo há pessoas que querem construir uma sociedade mais justa, empática, garantindo o direito à vida, à mobilidade, à cultura. Um mundo que seja de todos, não de alguns.

SP Escola de Teatro e a Alemanha

“A SP Escola de Teatro tem uma história linda com a Alemanha. Há muitos anos, promovemos parcerias importantíssimas que ressaltam a pedagogia única da Escola, assim como o interesse dos alemães em nos conhecer mais de perto”, diz Ivam Cabral.

“Em 2017, sob coordenação da Folkwang University of the Arts, quatro estudantes nossos participaram de uma montagem de Lisístrata na cidade de Pafos, naquele ano uma das capitais europeias da cultura. Já em 2022, dois estudantes foram para a Ernst Busch University of Theatre Arts Berlin, enquanto Rodolfo García Vázquez, nosso coordenador do curso de Direção, ministrou aulas na instituição”, completa.

Mais recentemente, em 2025, Vázquez foi professor convidado por seis meses da Academia de Artes Dramáticas Ernst Busch (Hochschule für Schauspielkunst Ernst Busch) em Berlim.

“Jena é o berço do romantismo alemão, uma cidade importantíssima para a literatura, a filosofia e as artes em geral. Em sua universidade, estudaram nomes como Marx, Hegel e Leibniz. Tenho muito carinho por Jena, por ter morado lá entre 2002 e 2004, e tenho certeza de que nossos estudantes que participarem do intercâmbio irão amar a experiência”, afirma Marcio Aquiles.

Desde 2010, a SP Escola de Teatro já promoveu 330 intercâmbios internacionais.

+ Rodolfo García Vázquez, coordenador de Direção da SP Escola de Teatro, é convidado para workshop e palestra em Berlim

+ Rodolfo García Vázquez coordena ciclo de palestras online com estudantes de sete universidades europeias

+ Ivam Cabral, Rodolfo García Vázquez e Marcio Aquiles publicam artigos em inglês sobre a SP Escola de Teatro no prestigiado The Theatre Times

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