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Entrevista com Ray Ariana, uma das vencedoras do Prêmio Solano Trindade 2025

Acontece nessa quarta-feira (3) na Unidade Roosevelt da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco o lançamento do livro “Eternizar em Escrita Preta – Volume 6”, mais uma edição das Coletâneas Solano Trindade.

O livro, publicado pelo Selo Lucias da SP Escola de Teatro e distribuído gratuitamente impresso e online, traz as três dramaturgias vencedoras do Prêmio Solano Trindade 2025, prêmio criado pela Escola e pela Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo.

Os dramaturgos premiados este ano foram: Blendon Cassio, com a peça “Depois do Homem”; Clarissa Roberta, com a peça “Alerta – Estado de PixAÇÃO”; e Ray Ariana, com a peça “Ínterim: Ou Como Despertam os Griôs”.

Leia a entrevista com Ray Ariana

O seu texto vencedor foi o “Ínterim: ou como despertam os griôs”. Poderia falar um pouco dele? O que os leitores podem esperar quando o livro chegar em 3/12?

“Ínterim: ou como despertam os griôs” é uma dramaturginga com tempo. Acredito que o leitor pode embarcar em uma narrativa cujos tempos passado, presente e futuro são conjugados o tempo todo. Muito inspirada na poética do tempo espiralar, cunhada por Leda Maria Martins, eu trago para a cena gerações distantes de uma mesma linhagem familiar, uma trisavó e sua trineta, ambas tecendo suas buscas pela história e memória negra.

Nesse tempo que vai e volta entre as memórias e o encontro das duas personagens, busquei amarrar a experiência de um tempo curvo vivida pelos povos negros cuja ancestralidade é assentamento. Dessa forma, a personagem trineta só pode existir e buscar sua história porque sua mais velha deixou os sinais pelos quais ela pode seguir. Assim como a personagem trisavó só pode deixar estes sinais pois é a mais nova quem a convida para estar no plano da cena e deixá-los. É um convite para vislumbrar e sentir a memória, a ancestralidade e o sonho como tempos que gingam juntos.

Como foi o processo de escrita da peça?

A escrita deste trabalho é fruto de uma investigação pessoal e artística a partir da escrevivência. Eu a iniciei em 2021, em um diário, onde ia desenhando, fabulando e brincando com as experiências que vivia. Gostava de registrar em texto as cores, imagens, gestos e esculturas que fazia durante o fim da pandemia e após ela. Assim, em 2023 eu percebo que a maioria das escrevivências destes 3 anos diziam de um mesmo desejo, que era o de encontrar as histórias familiares negras, desvendar os silêncios, encontrar as brechas. Havia percebido que meus textos iam preenchendo as lacunas da minha história familiar e do meu território com minha imaginação a partir das poéticas, filosofias e práticas da capoeira angola e de terreiro. Misturava minha realidade pessoal com uma ficção coletiva de busca pelo caminho da ancestralidade.

No final do ano de 2023, então, eu escrevo “Ínterim” como cena curta, me apresentando em vários festivais e cidades entre 2023 e 2025. Parecia que a história já estava super amarrada, mas sempre ouvia dos colegas e público que a cena curta poderia ser um espetáculo. Então, durante a minha pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso, no Bacharelado em Teatro pela UFMG, me dedico a expandir a cena curta. De “ínterim”, passo à “ínterim: ou como despertam os griôs”, ampliando meu olhar para tudo que já havia de potencial na dramaturgia inicial. Esse olhar que começa a ser alimentado pela teoria de Fernanda Onisajé, pois é lendo seu trabalho que percebo como as filosofias e práticas do terreiro de umbanda e da capoeira angola influenciavam minha escrevivência e, consequentemente, minha escrita dramatúrgica. Para a ampliação da cena curta, retorno ao cuidado para a colheita e produção de escrevivências a partir dos rastros deixados na cena curta. Todo esse percurso faz parte do meu artigo de TCC, inclusive.

Quais são as suas grandes inspirações dramatúrgicas e literárias e outras inspirações que agregam na sua literatura?

Bom, são muitas. Inicio minhas inspirações não publicadas por meus parentes. Minha avó Lúcia com sua lista de compras e sua paixão por guardar arquivos; meu pai Peça Rara com suas canções, pinturas, móveis, cortes de cabelo e tudo mais; minha mãe Cássia com seus crochês e sua canjiquinha cheirosa; meus irmãos Gabriel e Alexsander com suas canções; também tem a capoeira angola, que também é minha família, com toda a sua complexidade encantadora e desafiadora.

Já no campo das inspirações literárias publicadas, tem o Cuti, a Conceição Evaristo, a Beatriz Nascimento, o Abdias do Nascimento, a Leda Maria Martins, a Fernanda Onisajé, o Anderson Feliciano, a mallu caetano e Will Miller. Um apelo especial aos dois últimos que são meus íntimos do coração.

Você também trabalha com outras artes, como poesia e dança. Como elas conversam com sua dramaturgia e seu trabalho no teatro? Como você vê a relação entre esses campos?

Bom, compreendi “ínterim: ou como despertam os griôs” como uma dramaturginga justamente por perceber como sua escrita partiu de uma encruzilhada: a de ser escrevivente (poeta, escritora da experiência), performer (dançarina, atriz, cantante, brincante, angoleira) e pesquisadora (das histórias pessoais, mas também como acadêmica). Assim, o meu texto se dá justamente na linha que une todas estas minhas experiências e formas de viver o mundo.

O ponto central talvez seja a poesia, porque é através dela que capturo o que pesquiso e o que performo, mas sem dúvidas, cada uma dessas partes não tem vivido sem a outra. Assim como brinco no texto de gingar com os tempos, é na ginga de tudo que me compõe como artista que tenho encontrado meus textos dramatúrgicos.

Quais dicas você daria para outras escritoras e escritores negras e negros que desejam escrever novas peças, fazer carreira na dramaturgia e que poderiam participar das próximas edições do prêmio?

Achei um pouco difícil responder essa pergunta, já que eu mesma duvidei muito sobre enviar meu texto para o prêmio. Por vezes é muito difícil acreditar na própria potência, criatividade e tamanho, acreditar que o que fazemos e pensamos é bom e que existe solo fértil que queira acolher nossa semente. Mas é preciso que confiemos em nós, em nossas intuições, palavras e desejos.

É preciso que cuidemos de nós, de nossas cabeças, de nossos corpos para que o medo e a tendência à desistência não sejam grandes o suficiente para impedir que entreguemos ao mundo aquilo que viemos em terra para deixar. Isso a capoeira angola me ensina todos os dias e sou muito grata à ela e à quem caminha comigo. É preciso firmar-se em terra boa e confiar na árvore que crescerá.

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